segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AVIS AUX NOUVEAUX IMMIGRANTS



Hoje a neve chegou por aqui. É, agora não tem jeito. Agora começa o inverno. E, para vocês saberem como é o inverno por aqui, segue um texto de um jornalista canadense. O mais engraçado é que ele descreve exatamente tudo que vivemos aqui no nosso primeiro inverno. O texto é meio antigo, mas nada mudou.

Você vêm da França, do Haiti, do Zaire, do Vietnam ou de qualquer outro país normal. Você imigrou para o Quebéc durante o verão. Você achou isso bonito. Você adorou o sol quente do mês de julho. E as cores mágicas do outono. Na última quinta-feira, quando você viu a primeira neve cair, ficou encantado. Um verdadeiro cartão postal. Pobres novos Quebecois! É preciso, de qualquer jeito, vos prevenir! É preciso que vocês saibam. O inverno não é uma canção do Gilles Vigneault. O inverno é uma canção do Black Sabbath! A nevezinha da última quinta-feira, aquilo não era o inverno. Era o fim do verão. O inverno é outra coisa. Você ainda não viu nada. E se você ainda não está preparado psicologicamente para entrar na dança, você vai ter um treco. Você vai voltar pro seu país! E como a gente adora vocês e quer sempre tê-los por perto, deixe-me falar qual será a dura realidade.

Uma manhã da próxima semana ou da outra, você vai acordar, inocente. Você vai sair e PAF! Você vai dar de cara com ele! O frio! Vai fazer menos dez lá fora. Com o vento, menos trinta. Seu corpo vai perguntar o que está acontecendo. Você vai olhar à sua volta. Você vai tentar encontrar alguém para te explicar esse horror. Mas você não vai ver ninguém. Você não vai ver nada além de casacões passando. Claro que tem gente dentro deles. Mas você não vai vê-las, de tão empacotadas. Você, com a cabeça descoberta, com o seu impermeávelzinho, vai parecer mesmo com um turista. Porque os Quebecois de verdade sabem que o único jeito de sobreviver ao inverno é usar várias camadas.

Antes de sair de casa, o Quebecois de verdade veste uma segunda-pele, uma camisa, um suéter, um paletó, ceroulas, calças, pega um sapato de reserva [para usar em ambientes internos aquecidos], botas [de neve], um casaco impermeável, um cachecol e uma touca. Isso leva mais ou menos uma hora, mas quando ele sai, está pronto. O néo-quebecois às vezes tarda à adotar essa prática. Mas, habitualmente, depois da terceira pneumonia, ele decide comprar seu Kanuk. E troca a boina pela touca.

Trincando de frio, você vai entrar no seu Peugeot. Você vai tentar fazê-lo funcionar. Não vai funcionar. Tá congelado, o seu Peugeot. Você vai ter que aprender a praticar o esporte nacional do Quebéc: esquentar a caranga. O Quebecois passa o inverno esquentando a caranga. Antes de se deitar, o Quebecois liga o motor para ter certeza de que o carro nao ficará congelado pela manhã. Depois, ele acorda durante a noite pra repetir a manobra. De manhã, ele levanta duas horas mais cedo. Uma hora para se vestir, outra para esquentar a caranga. O Quebecois não dorme no inverno.
Depois de ter chamado a CAA para dar um jeito no seu Peugeot, você finalmente vai chegar no escritório. Vermelho e puto. Você vai dizer aos seus colegas de trabalho: “Mas isso é horrível, é a Sibéria, o corpo humano não pode tolerar isso. Merda!” E então seus colegas irão te responder: “Isso não é nada, agüenta até janeiro!” e você vai ficar branco. Mesmo se você vier do Haiti.
Em seguida, da janela do seu escritório, você vai ver a neve cair. Não uma nevezinha boba, como na última quinta. Não. Uma verdadeira queda de neve. Com grandes flocos, à atacado. Você vai achar isso mágico. Encantador. Espera até ir lá fora! Você vai dizer o seu primeiro tabarnak. Você vai cair de bunda, porque não sabia que estava escorregando tanto. E se você não quebrou uma perna, você vai tentar encontrar o seu Peugeot. Enterrado sob um monte de neve de dez pés. Você vai ter que, pela primeira vez na sua vida, tirar a neve do seu carro. Com os pés. Você não havia previsto a compra de uma pá. Uma pá, no seu país, serve só para enterrar as pessoas. Aqui, serve todos os dias para nos desenterrar do banco de neve. E você vai ver que a neve parece leve quando cai, mas pesa uma tonelada uma vez que está no chão. Você vai ganhar a primeira hérnia de disco. Em seguida, se por milagre, seu Peugeot aceitar ligar, você vai tomar o caminho de casa. Você ainda não desistiu! No inverno, quando neva, dirigir é um esporte. Todo mundo entra nessa. Mesmo os Quebecois de verdade nunca se acostumam a dirigir no inverno. Eles dirigem grudados. Como você. Você vai, certamente, bater na traseira de alguém. Não liga, é normal. Em alguns segundos, alguém vai bater na sua. Dirigir no inverno é assim, uma zona.

Depois de três horas de pára-choque à pára-choque, você vai finalmente chegar em casa. No aconchego do lar. Depois de ter voltado ao normal, você vai ter vontade de comer em um restaurante e de ver um bom filme. Entretando, você aprendeu a lição. Você sabe o que fazer. Você coloca um grosso suéter de lã. Embaixo do casaco de inverno que você comprou na hora do almoço. E você sai de casa. Você não vai dar nem dois passos. Você vai ficar paralisado. Vai virar um grande cubo de gelo. Um iceberg. Pois, veja só, em noites de inverno não se sai no Quebéc. Com menos quarenta, até as focas ficam dentro da toca. Todos os Quebecois de verdade sabem isso. Em noites de inverno, não tem nada para fazer além de assistir tevê. Se você não sofreu uma hipotermia instantânea, você vai conseguir dar meia-volta. E entrar em casa. Maravilha.

Você vai dormir, dizendo à si mesmo que isso é, certamente, excepcional. Que amanhã vai estar melhor. Isso nao é nem um pouco excepcional. Isso vai ser assim, todos os dias, até abril. Cento e vinte dias de frio infernal. Você está prevenido. Um homem prevenido vale por dois. É preciso, ainda, que eu seja honesto com vocês, queridos amigos imigrantes. O inverno quebecois não é exatamente como eu descrevo nessa crônica. É muito pior! Bom inverno, assim mesmo.
Tome conta do nosso país, enquanto a gente vai para Flórida!

Stéphane Laporte

Chroniques du dimanche – La Presse

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Novembro

Andei sumida... e nem existe uma justificativa, a não ser a preguiça de escrever.
Muitas coisas aconteceram neste mês de novembro (e ele ainda nem terminou). Trabalhei nas eleições de Montreal, que foi dia 1 de novembro. Eu adorei a experiência. Além de praticar francês o dia inteiro, ainda ganhei uma boa graninha. O Governo daqui paga para quem trabalha nas eleições, mas o serviço é bem puxado - das 8h30 às 21h30, sendo que eu fiquei até 22h. O bom é que aqui o voto não é obrigatório. Então, dos mais de 300 eleitores que haviam na minha lista, apenas 68 compareceram.
No mesmo dia, quando cheguei em casa, depois de um dia exaustivo, tive a melhor surpresa de todos os tempos. O meu amor comprou minha passagem para ir ao Brasil com ele no fim do ano. Passar o Natal e o Ano Novo com nossa família será lindo-o-o-o-o-o-o.
E para melhorar o mês, que começou maravilhoso, eu comprei meu ingresso para o show do Bon Jovi que será dia 19 de março. Eu sei que está longe, mas já começaram as vendas e, adivinha?? Já não havia muito lugar disponível e infelizmente terei de ir sozinha porque o Gatinho não gosta. Que bom que aqui posso ir num show sozinha, sem medo de voltar para casa à noite ou medo de alguma confusão. Isso é o Canadá!